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J.K. Rowling e o suposto final alternativo de 'Harry Potter'

segunda-feira, maio 02, 2016 A+ a-


Toda semana, nós do Wickred publicamos em nossas redes sociais algumas curiosidades a respeito do universo bruxo. Desta vez, tocamos num assunto que, por incrível que pareça, é pouco conhecido entre os fãs: que J.K. Rowling supostamente escreveu um final alternativo para a série Harry Potter.

Alguns dos nossos leitores sentiram a curiosidade despertar e pediram para ler sobre essa suposta história. Que seja notada aqui a ênfase na palavra "suposta" pois a publicação original não vem do Pottermore ou qualquer outra fonte que trabalhe oficialmente com J.K. Rowling. Ela vem do jornalista Greg Palast.

Greg é um jornalista e escritor que se tornou amigo de Rowling justamente na época do lançamento do último livro da série, Harry Potter e as Relíquias da Morte (2007). Ambos possuíam obras na lista de mais vendidos e os filhos gêmeos de Palast eram grandes fãs da saga do mundo bruxo, o que acabou aproximando os autores.

Abaixo, leia a tradução adaptada do artigo publicado por Greg Palast em seu site:



Por Jo (J.K.) Rowling, segundo o que foi dito a Greg Palast e seus filhos
The Week [TheWeek.com 18 Julho 2011]

Alguns de vocês devem lembrar que, anos atrás, quando eu morava na Inglaterra, escrevendo para o The Guardian, na época em que eu dividi a lista de mais vendidos com Jo Rowling (ela no topo, eu mais embaixo), nós nos tornamos amigos graças ao amor que meus filhos tinham pelo seu trabalho.

Mas ela sabe que eu não gostei muito da conclusão da série. Na minha opinião (e ela não concorda de forma alguma com o que eu acho), Jo estava um pouco distraída com a preocupação de como isso seria adaptado em um filme.

Eu a incomodei tanto ao ponto dela me contar os “outros” finais. Todo autor tem o seu – e nós olhamos para os antigos rascunhos, depois da publicação, e falamos, “Merda! Eu deveria ter usado essa versão” – e então o escondemos antes que alguém os leia e concorde conosco.

Não. Jo não me mostraria as cópias originais, mas ela me contou alguns dos finais com “eu poderia ter feito isso...”

Um deles me derrubou, e eu tenho que compartilhá-lo. (Desculpe Jo, esse é o perigo de fazer amizade com um repórter investigativo – se você esquecer de usar as palavras mágicas,  “Isso é em off.”) Eu compreendo, porém, porquê ela deixaria de lado esta conclusão mais calma, mas muito mais angustiante.

Eu a escrevi naquela mesma noite de Outubro de 2007, e não tenho a pretensão de dizer que estas foram as palavras exatas que ela me contou. Eu simplesmente precisava compartilhar isso aqui enquanto espero que Jo e sua editora não me arrasem com um Avada Kedavra.

Eu presumo que você tenha lido os livros – e se ainda não, que vergonha hein! – por isso eu não vou introduzir você ao momento exato, exceto que direi que este final alternativo (e um tanto conturbado) se afasta das versões impressas e cinematográficas da história, a partir do momento do confronto final entre Harry com o Lorde das Trevas, Voldemort

E por favor: esteja ciente que estas não são as palavras exatas dela naquela noite, eu as estou escrevendo enquanto recordo minhas notas mentais – não sou nenhuma J.K. Rowling.



Para a Floresta Proibida 


Harry marchou em direção ao campo onde Voldemort esperava com seu grupo de Dementadores. A cicatriz de Harry queimava brutalmente, salvando-o da dor de pensar muito profundamente sobre sua decisão, que provavelmente o levaria a nada além da morte.

Que mal especial, que mortal e desleal feitiço teria o Lorde das Trevas preparado para a destruição de Harry? Voldemort havia caçado Harry por mais de uma década; sem dúvida Voldemort iria se armar com uma maldição especial muito mais poderosa e definitiva que a Avada Kedavra que falhara na tentativa de matar Harry quando criança.

Harry estava terrivelmente certo. O Lorde das Trevas, em sua clareira na Floresta Proibida, estava preparando um feitiço tão devastador quanto Harry temia, e muito mais horrível. Enquanto Harry caminhava para o encontro que fazia parte de seu destino, Voldemort passava sua varinha entre os frios Dementadores, mandando cada um dar um de seus beijos nela.

Voldemort, naquelas noites dolorosas e solitárias de seu exílio e recuperação, havia criado uma forma de lançar um beijo de Dementador com sua varinha, o beijo que tiraria a alma de sua vítima para sempre. E agora ele atingiria Harry com centenas deles. A recompensa de Voldemort seria maior do que assistir ao enterro de Harry. Ele teria Harry congelado no lugar, a vida de Harry envolta pela eternidade no momento de sua humilhação e derrota final, um monumento aterrorizante à vitória de Voldemort para que todos vissem para sempre. A alegria de Voldemort crescia a cada beijo de Dementador em sua varinha.

Harry podia sentir o frio sepulcral deles e a força de seu desespero à medida que se aproximava. Era algo sem esperanças, e ele estava indefeso perante isso. E ele sabia.

Mas, então, Harry sentiu a presença de um rapaz e de uma moça, embora não pudesse vê-los. Os dois fantasmas amavelmente ergueram seu corpo e levantaram seu espírito. Isso era, ele tinha certeza, o último resto de força vital de seus pais, fazendo um último sacrifício para se unir a ele em sua jornada final. Ele se permitiu um momento de felicidade pacífica, sentindo-os tão perto.

Então ele parou. Harry tremeu com um profundo arrepio de reconhecimento. Eles não eram seus pais. Eram os de Voldemort: o jovem Tom Riddle e sua noiva que, para esta ocasião, havia recuperado sua bela fisionomia original. Eles disseram, sem usar palavras, “nosso querido filho, não permitiremos que você seja ferido”.

Eram para ele essas palavras? Ou para Voldemort? De alguma forma, não parecia importar – elas pareciam tão bondosas quando tudo que ele mais precisava nesse momento era amor paternal.

Harry e os dois espíritos calorosos, tornando-se mais visíveis, aproximaram-se da borda da agitada multidão de seguidores de Voldemort, que se afastaram, preparando para a vítima um caminho fácil para sua condenação.

A varinha de Voldemort havia retornado à sua mão branca e esquelética. O Lorde das Trevas a apontou com confiança para onde Harry certamente surgiria da multidão, não ainda para destruir Potter, mas para falar com ele, enquanto preparava-se para dar a Harry um discurso sobre a punição eterna prestes a atingi-lo.

Voldemort riu quando Harry chegou tropeçando. Mas, quando o Lorde das Trevas viu os espectros de seus pais, ele gritou como se fosse cortado ao meio. Com seu coração furioso em chamas, Voldemort imediatamente lançou os beijos mortais, berrando “Oppugno Mortimbessios!”. E todos os terrores vis dos Dementadores, em um clarão sem fim de sua varinha, correram em direção a Harry e aos espíritos ao seu lado.

Demorou apenas um centésimo de segundo para que a maldição de Voldemort alcançasse Harry. Mas, de alguma forma, o mundo pareceu desacelerar, a Terra parou de girar; todos no planeta ficaram imóveis, embora Harry tivesse noção que estava livre para se mexer. Harry havia preparado todos os feitiços de proteção para sua defesa, mas agora todos eles eram visivelmente inúteis. Harry se viu incapaz de fazer qualquer coisa a não ser inclinar-se sobre um dos joelhos e abaixar a cabeça, preparando-se para aceitar a força do golpe e sua morte e fim.

Quando ele se ajoelhou, naquele momento quieto fora do tempo, as duas sombras voaram dele em direção a Voldemort. E Voldemort mudou. O vento gélido dos Dementadores, e o tempo, moveram-se de trás para frente; e lá estava Voldemort, voltando para sua figura mais jovem, poderosa e assustadora.

A maldição atingiu a cicatriz de Harry, obliterando-a, então, em um rugido alto, ele sentiu a dor esmagadora de seu crânio se abrindo, e a maldição de som estridente correu de sua cabeça – de volta para a varinha que a havia enviado.

Quando a maldição se virou contra ele, Voldemort continuou a rejuvenescer ainda mais, até que se tornou novamente uma criancinha, com sua mãe e seu pai ao seu lado. Quando perceberam que a força total do encanto do próprio Voldemort estava prestes a atingi-lo, seus pais colocaram seus reconfortantes braços ao redor do filho para protegê-lo do golpe final.

E então o atingiu. E agora as três almas entrelaçadas, Tom Riddle, sua esposa e filhinho, permaneceriam para sempre sepultados naquele momento único, sem nunca poder ir embora.

E nunca querendo ir.

***

Hogwarts 2130 d.C.


O diretor, com sua viscosa barba branca despenteada e sua cabeça careca e enrugada, coberta por um chapéu de bruxo inclinado, olhou com gratidão melancólica para a moldura vazia que ele havia convencido o Ministério a colocar, apesar da relutância deste. Ele sabia que logo estaria vivendo naquele pequeno quadrado gravado com o nome “Harry Potter”, separado de Alvo Dumbledore apenas pelos retratos das diretoras McGonagall e Chang.

O velho bruxo podia ouvir lá embaixo a movimentação na escola com os preparativos para seu 150º aniversário. Ele mudou Gina, uma ave do paraíso, para um poleiro mais perto de sua mesa. Sua esposa, em vez de envelhecer, havia se transformado nesse belo pássaro, mas ainda insistia em dar um conselho atípico de um pássaro. “Harry, querido, você não pode perder sua própria festa de aniversário. E está tão adorável lá fora.”

De fato, o dia de verão havia trazido dezenas de pessoas fazendo piqueniques, que tinham vindo para colocar suas cestas e seus cobertores perto da luz acolhedora emitida pela estátua viva da família feliz com a criancinha. Ninguém além do velho diretor sabia quem estava preso naquela esfera brilhante. Quando os Dementadores foram libertados do encanto de Voldemort, eles, e de fato todos os bruxos, com exceção de Harry e da sombra de Alvo, tiveram todas as lembranças do Lorde das Trevas apagadas da memória. Agora, mais de um século depois, a curiosidade a respeito da família na estátua havia cessado há muito tempo. Harry simplesmente havia mandado colocar uma placa ali. Ela apenas dizia “Riddles”.

“Eu irei”, ele disse à sua emplumada esposa, “mas tenho que tomar conta do menino um pouco”. O tataraneto de Harry, ainda incapaz de falar, brincava silenciosamente no tapete com seu sapo de chocolate. Então, repentinamente, em uma raiva inexplicável, o pequeno Tom esmagou o animal feito de doce. Harry observou, e soube que o mundo todo logo escureceria novamente para as próximas gerações.

FIM




O que você achou desse final alternativo? Eu particularmente prefiro o que conhecemos, com o epílogo Dezenove Anos Depois. Porém, o que mais me chamou atenção neste final alternativo, além da menção de um possível animal fantástico (será que veremos o Pássaro do Paraíso nos cinemas em breve) é exatamente o último parágrafo. Impossível não se perguntar até que ponto ele pode influenciar na história de Harry Potter and the Cursed Child.

Só nos resta aguardar até dia 31 de Julho, quando o roteiro da peça será publicado oficialmente.

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